Basta andar pelas estações de metrô de São Paulo no horário de pico para compreender a grandiosidade do sistema paulistano. Com 11,9 milhões de habitantes (IBGE, 2024) e mais de 1,2 bilhão de passageiros transportados por ano, a capital paulista é líder em número de usuários, mas ocupa apenas a quarta posição entre os maiores sistemas de metrô e trens da América Latina em extensão — com 377 km, somando linhas metroviárias e suburbanas.
À frente de São Paulo estão Caracas (107 km), Santiago (149 km) e a líder Cidade do México (217 km). O que explica essa diferença?
Muito além da quilometragem: o que define um sistema de transporte sobre trilhos
Segundo Gracie Cristina Oliveira Machado, engenheira elétrica e diretora de Sistemas da Systra, a classificação dos maiores sistemas é feita pela extensão total das linhas, mas essa métrica não considera aspectos essenciais — como tecnologia, capacidade de transporte e operação.
“Linhas de metrô, trens e VLTs possuem tecnologias, custos e prazos de construção muito diferentes. A métrica usada no ranking leva em conta apenas a extensão, sem considerar o número de trens em circulação, tipo de operação e capacidade de passageiros”, explica Gracie à revista O Empreiteiro.
Ela ressalta que São Paulo, embora tenha mais estações (91) do que Caracas (49), apresenta uma rede mais compacta e densa — resultado de um planejamento voltado ao transporte metropolitano e não apenas intermunicipal.
Metrô, trem e VLT: entenda as diferenças
Os trens suburbanos costumam atender longas distâncias, ligando a capital a regiões metropolitanas e cidades vizinhas. Já o metrô atua dentro dos grandes centros urbanos, com maior frequência e intervalos menores entre trens. O VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), por sua vez, é voltado à mobilidade local, conectando bairros e áreas de alta circulação.
Gracie explica que cada modal é definido com base em um planejamento funcional da cidade, que leva em conta:
- Estudos de demanda e projeções de crescimento urbano;
- Análises de saturação e superlotação do sistema existente;
- Características geográficas e topográficas da região a ser atendida.
“Cada cidade precisa de um sistema compatível com suas necessidades. As obras sobre trilhos são caras, mas possuem vida útil superior a 30 anos e transformam a mobilidade urbana quando bem planejadas”, afirma a engenheira.
O papel da engenharia na expansão e integração dos sistemas
Projetos como o Expresso São Paulo–Campinas, o Trem Intermetropolitano (TIM) e novas linhas metroviárias — como as Linhas 07 e 22 — mostram o avanço da engenharia nacional no desenvolvimento de transportes sustentáveis e integrados.
A Systra, por exemplo, atua com projetos funcionais, básicos e executivos, além de estudos de concessão e infraestrutura elétrica (GIS) para novas estações. Esses trabalhos visam garantir eficiência operacional, segurança e conforto para milhões de passageiros.
Mobilidade urbana como vetor de desenvolvimento
Sistemas de transporte sobre trilhos são mais do que infraestrutura: são motores de desenvolvimento urbano. Eles reduzem o tempo de deslocamento, impulsionam o comércio local, valorizam imóveis e contribuem para uma cidade mais sustentável.
Com planejamento técnico e visão de futuro, o transporte ferroviário segue sendo um dos pilares da mobilidade inteligente nas metrópoles latino-americanas — e o Brasil tem potencial para estar entre os líderes desse avanço.
Fonte: Revista O Empreiteiro / IBGE / Systra