A Petrobras se prepara para inaugurar mais um marco da engenharia offshore brasileira: a plataforma P-78, um FPSO (Floating Production Storage and Offloading) de última geração que será instalado no Campo de Búzios, na Bacia de Santos. Após concluir o comissionamento no estaleiro da Seatrium, em Singapura, a unidade já está em deslocamento para o Brasil, com chegada prevista para setembro e início de produção programado para dezembro.
A P-78 será a sétima plataforma a operar no pré-sal de Búzios, reforçando a capacidade produtiva do maior campo em águas ultraprofundas da indústria mundial.
Tecnologia de ponta em alto-mar
Projetada para operar com altos níveis de eficiência, a P-78 será capaz de:
- Produzir 180 mil barris de óleo por dia
- Comprimir 7,2 milhões de m³/dia de gás natural
- Armazenar grandes volumes em um casco de 345 metros de comprimento
- Operar sistemas complexos com mais de 15 mil linhas de tubulação, 20 mil válvulas manuais e 120 mil toneladas de peso seco
A plataforma conta com tecnologias avançadas, incluindo:
- Sistemas de separação água-óleo-gás de última geração
- Separador eletrostático para processamento de água-óleo
- Peneiras moleculares para remoção de CO₂ no gás reinjetado
- Sistemas integrados de automação e controle da Rockwell
- Equipamentos turbomáquinas fornecidos pela Siemens
Trata-se de um FPSO projetado do zero (new build), com o casco construído pela Hyundai em estaleiros na China e na Coreia, e integração final realizada em Singapura.
Da Ásia ao Brasil: a engenharia por trás do deslocamento
A plataforma está sendo trazida ao Brasil em condição tripulada, permitindo que parte do comissionamento continue durante o trajeto. Isso reduz o tempo entre a chegada da unidade a Búzios e o início efetivo da produção.
Segundo Gabriel Silva, gerente de engenharia digital da DBR Energies:
“Levar o FPSO tripulado durante a viagem permite manter sistemas em operação, continuar testes e aprofundar o treinamento das equipes. O resultado é uma entrada em operação mais rápida, segura e eficiente.”
Um projeto global com forte atuação brasileira
Diversas empresas foram responsáveis por etapas críticas:
- DBR Energies: projeto executivo do topside, integração e suporte técnico
- Seatrium (Singapura): montagem final, integração e comissionamento
- Brasfels (Angra dos Reis): fabricação de módulos do topside
- Siemens: turbomáquinas e compressores
- Rockwell: sistemas de automação e controle
- Fornecedores nacionais: Asvotec, KSB, MKG, Sulzer, entre outros
O contrato previa 25% de conteúdo local, distribuído entre engenharia, construção e suprimentos. No total, 10 módulos foram fabricados no Brasil, incluindo equipamentos críticos e parte do detalhamento de engenharia.
Integração: o grande desafio
FPSOs são obras de alta complexidade. Cada módulo contém estruturas pesadas, tubulações, painéis, instrumentos e equipamentos montados em espaços reduzidos. O projeto executivo buscou:
- Otimizar o peso do topside
- Garantir estabilidade hidrodinâmica
- Reduzir interferências entre módulos
- Simular cargas estáticas e dinâmicas de içamento
- Planejar todos os hook-ups de interligação
- Ajustar o casco conforme o controle de peso do topside
A DBR também organizou toda a documentação técnica, incluindo protocolos, relatórios, diagramas e certificações de fábrica. Cada módulo só avançou após cumprir rigorosos critérios de engenharia e segurança.
O impacto econômico: aumento de 18% na capacidade de Búzios
Com a entrada da P-78, a produção instalada no Campo de Búzios deve aumentar 18%, chegando a aproximadamente 1,15 milhão de barris diários.
O campo é hoje:
- O maior em águas ultraprofundas do mundo
- Responsável por grande parte da produção nacional
- Um dos principais motores da alta produtividade do pré-sal
Em 2023, Búzios atingiu 1 bilhão de barris de óleo equivalente em apenas cinco anos — recorde absoluto
quando comparado a outros campos gigantes como Marlim e Tupi.
Perspectivas até 2027
O Plano Estratégico da Petrobras prevê US$ 64 bilhões em investimentos em exploração e produção entre 2023 e 2027, sendo 67% destinados ao pré-sal. A projeção é atingir:
- 3,1 milhões de boed em 2027
- 2,4 milhões de boed apenas do pré-sal (parcela própria da Petrobras)
- 3,6 milhões de boed considerando Petrobras + parceiros
O pré-sal já representa cerca de 80% das reservas nacionais, com um óleo leve de alto valor comercial.
P-78: um marco de engenharia e energia para o Brasil
A plataforma reúne:
- Engenharia detalhada de alto nível
- Conteúdo nacional significativo
- Integração global coordenada
- Tecnologia de última geração
- Capacidade produtiva competitiva
- Segurança operacional e eficiência energética
Sua entrada em operação consolida Búzios como um dos campos mais importantes do mundo e reforça o papel do pré-sal como pilar da soberania energética brasileira.